Dicas de Escrita: É um conto ou um romance?


Uma experiência interessante que estou vivendo como escritor é organizar uma antologia. A maioria dos contos que recebo foram feitos por autores iniciantes, aspirando uma primeira publicação. Com é de se esperar, chegam histórias boas, medianas e ruins. Entre os problemas, um se destaca: ideias para romances inseridas em um conto de 5000 palavras.

Segundo Kurt Vonnegut, um conto deve ser iniciado o mais próximo possível do seu final. Existe um motivo muito claro para isso. Contos não costumam ser histórias com espaço para aventuras homéricas. Por exemplo, na antologia que estou organizando, o limite de palavra é de 5000 palavras. Um romance curto alcança cerca de 40000. Se alguém tentar pegar Harry Potter e a Pedra Filosofal e reescrever o livro nos moldes da antologia, todos os eventos ficarão extremamente resumidos e dificilmente haverá profundidade nas personagens. O resultado seria a transformação de uma boa história em algo muito ruim.

Uma estratégia muito útil para contos é começar a história in media res. Ou seja, iniciar a narrativa no meio dos eventos. Vamos imaginar que o conto é a aventura de um assassino contratado para matar um nobre em uma festa, mas que vai descobrir lá que a morte do seu alvo pode iniciar uma guerra civil e decide ajudar um homem a escapar. Temos uma linha para o enredo do conto, mas onde começamos a narrativa? A história começa de fato no recebimento da missão pelo assassino, mas vale a pena narrar essa parte e cada detalhe da preparação? A resposta provavelmente é negativa. É muito mais produtivo iniciar a história com o assassino na festa. As informações anteriores essenciais podem ser mostradas aos poucos.

É natural que se questione nesse momento algo bastante relevante: esse corte de informação não pode empobrecer o texto? A resposta pode ser sim ou não. Com certeza, você perde partes da história que poderiam aprofundar a ambientação e o protagonista, mas isso pode ser feito normalmente no decorrer do enredo, livrando-se apenas do que acrescentaria pouco ou nada. Também devemos lembrar que “encher linguiça” não enriquece texto algum, mas sim garante um leitor entediado.

Segundo o dicionário Michaelis, conto é umanarrativa breve, que prefere a concisão à prolixidade, e que contém um só conflito e uma única unidade dramática, enfatizando mais a ação do que os personagens”. Segundo o Houaiss, a definição é “narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação, unidade de tempo, e número restrito de personagens”. Perceba que o próprio significado do termo “conto” corrobora com a sugestão do Kurt Vonnegut. Estamos tratando aqui de uma história objetiva, com essencialmente um único conflito. Entendendo isso, fica muito mais fácil escrever um conto de qualidade.


Este texto foi escrito por Ricardo R. P. Resende.
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