APARTADOS - WEBSÉRIE - EPISÓDIO VII


 


APARTADOS



EPISÓDIO VII



COINCIDÊNCIAS...



A fuga fora mais uma de suas tentativas para conseguir livrar-se "Deles", os malditos olhos alaranjados. Mas manter-se no lado de fora da "caixa" não seria tarefa fácil. Sabia muito bem qual era o poder de alcance daqueles vermes. No entanto, havia prometido para si mesmo que não seria capturado outra vez. Nem que isso custasse sua própria vida. Há alguns dias perambulava pelas ruas do centro de São Paulo, sem nenhum destino. Queria encontrar os outros apartados que conhecera na "caixa" branca, seria de vital importância. No entanto não fazia a menor ideia de como iria realizar essa empreitada, em uma cidade de dimensões tão gigantescas.

Acordou ainda durante a madrugada, aliás, não conseguira nem dormir direito por conta daquele frio medonho, as madrugadas de inverno eram duras para quem usava as ruas como abrigo. Começou a caminhar ainda meio letárgico, sem perceber o carro que o seguia a certa distância. Andou alguns minutos ainda sem notar o veículo. Depois, seu corpo todo foi tomado por aquele sentimento de medo gelado que começa dominando o corpo pela coluna vertebral. 

- Otho! - Gritou uma voz masculina e grave, que saiu do automóvel. 

"Fora descoberto, mais cedo do que imaginava". - Pensou. "Esses malditos sempre o encontravam". Concluiu. 

As pernas não respondiam à sua vontade de correr, ficou paralisado. 

- Sou eu Otho! O Morgan. - Falou o interlocutor.

"Morgan". - Aquele nome reverberou em sua cabeça como um eco. Um alívio.

Fora salvo pelo gongo, como se diz no ditado popular. Sentiu como se toda tensão esvaísse de seu corpo. Conhecia aquele renegado muito bem. Para ele, Morgan era o "olho alaranjado" mais humano de quem tinha conhecimento.

- Vamos meu camarada, entre nesse carro de uma vez por todas. Ou prefere ficar ai vulnerável e exposto  nesse frio. 

Sem pensar muito, Otho já estava dentro do carro do outro. 

- Dessa vez te encontrei antes daqueles abutres. - Falou o motorista. - Você fez um estrago lá! Deve imaginar que estão todos no seu encalço outra vez.

- Imagino. - Soltou um sorrisinho pelo canto da boca. - Mas só me pegarão morto dessa vez!

- Pode se considerar um cara de sorte. Desde que você fugiu e libertou os outros três da "caixa" que eu e "Eles", estamos em sua procura. 

- Sou um homem de sorte sim. - Soltou uma gargalhada que estava presa. - Encontrado por um renegado.

- Melhor ser resgatado por um renegado do que ser capturado por um verme. Não acha.





Há dias sentia como se estivesse sendo perseguido, aquela sensação de mil olhos sobre suas costas, aquele arrepio na coluna vertebral e uma estranha sensação de uma sombra pesada sobre os ombros, ocupavam sua mente perturbada.

Voltou algumas vezes naquele boteco onde todas aquelas coisas estranhas haviam começado em sua vida. Mas não encontrou as respostas que queria ali, sua vida estava totalmente de ponta cabeça, fora de controle como nunca antes. 

Ligou a TV, apenas por força do hábito, não que estivesse interessado em assistir algo. Passava um desses programas matinais que falam sobre receitas culinárias e outros assuntos relacionados. Do nada, a tela apagou e começou a mostrar uma imagem toda cheia de interferências. Ele, que levava a caneca de café à boca, ficou estático, como se derrepente sua atenção fosse magnetizada por aquele aparelho. Lá estava ele e mais três pessoas desconhecidas, sentados no chão de um quarto totalmente branco, que mais se parecia com uma caixa. As pupilas dos olhos dilataram, com o susto, largou a caneca de café no chão antes mesmo de ingerir aquela bebida dos deuses. Sua atenção voltou-se para o seu ato desastroso. Nem conseguiu perceber a entrada de outra pessoa dentro da caixa, um homem todo paramentado, como quem se protege de algum tipo de radiação. 

Quando retornou seu olhar para a TV, tudo estava como antes daquele estranho incidente. O coração estava acelerado. 

"Estava ficando louco". - Pensou, enquanto limpava a sujeira que acabara de fazer. Recolheu os cacos da canecas  e os jogou na pequena lixeira que ficava sobre a pia da cozinha. 

O interfone tocou. Ficou tenso, assustado. Não estava esperando por ninguém. 

Atendeu o aparelho. Do outro lado, uma voz feminina desconhecida.

- Boa tarde! - A mulher ofegava nitidamente, estava nervosa. - Meu nome é Enya. - Deu uma pequena pausa. - Isso não faz nenhum sentido meu Deus! - Exclamou atordoada. - Não me pergunte nada por favor. Mas precisamos conversar...

Em poucos segundos, estavam um diante do outro.

- Entre! - Falou Caio com muita gentileza. Mesmo sem nunca ter visto aquela mulher grávida em toda sua vida, sabia que havia um elo de ligação entre os dois. 

- Me desculpe! Não sei como tive coragem de fazer oque estou fazendo...

- Acalme-se por favor! Sente-se. Meu nome é Caio. Em que posso ajudar...

Enya sentou-se. Respirou fundo para começar a falar sobre aquela história esquesita. Caio trouxe um copo com água e entregou para ela.

- Obrigado! - Agradeceu pela gentileza. - É tudo muito estranho, admito! Eu estar aqui, conversando com você. Enfim! Estou começando a ficar acostumada com coisas estranhas rodeando minha vida. 

Ele apenas prestava atenção, em pé diante dela.

- Bem vamos lá! Sonhei com esse momento, ou melhor, não sonhei. Acordei com o seu endereço encrustado na minha cabeça e tive uma sensação com isso que está acontecendo agora. Antes que você me pergunte, não sou médium. Mas é isso Caio. Pode parecer patético, estranho, sei lá... Não sei nem como continuar essa conversa...

Ele a encarou nos olhos e sentou-se ao seu lado no sofá.

- Não se preocupe! Eu também tenho vivido momentos nada convencionais. Perturbadores, para dizer a verdade...

Continuou a frase, contando para ela como tudo havia começado. E Enya por sua vez, agora mais tranquila, também compartilhou com ele o episódio do metrô. Sem perceberem, estavam trocando informações, como se já se conhecessem há muito tempo.

- O que você acha que é essa caixa branca que estamos vendo.

- Não faço a menor ideia. Mas pelo que pude entender, haviam mais duas pessoas lá com a gente.

- Pois é! Loucura não.

- Se a gente for enxergar pelo ponto de vista da lógica, sim. Mas, nada nessas nossas histórias tem algum tipo de lógica.

Enya soltou um sorrisinho tenso.

Ele, começou a observar a beleza daquela estranha.



Continua...



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