EPISÓDIO 01
EMBRIAGUEZ?
Dezembro de 2019 (Ano
Domini)
A cabeça estava ocupada
por pensamentos diversos e embalada por uma dose de álcool um tanto quanto
excessiva, andava pelas ruas do centro, ignorando o mundo a sua volta e o
perigo da penumbra noturna. Os passos levavam para lugar nenhum, a cabeça se
concentrava em encontrar um lugar para desprezar a urina. A bexiga estava cheia
e causava certo incomodo no abdômen. Por mais que não estivesse sóbrio, não
tinha o hábito de urinar na rua. Precisava encontrar um boteco, ou quem sabe
dar a sorte da estação mais próxima do metrô estar aberta. Precisava de um
sanitário urgente.
Parou por um instante,
para dar conta de onde estava. Olhou o relógio. Três e quarenta da manhã.
Esquina da Rua: Conselheiro Crispiniano com a Av: São João, à sua frente o
Largo do Paissandú e, um pouco a esquerda a Galeria do Rock. Apressou os passos
para chegar ao bar do outro lado da avenida que estava com as portas abertas.
Trocou algumas palavras com um atendente e entrou apressado no banheiro do
lugar. Enquanto desprezava a diurese e aliviava a bexiga, uma imagem intrigante
do balconista dominou seus pensamentos por um átimo de segundo. Os olhos do
homem possuíam um brilho estranho. Cintilante.
“Seu bêbado”. – Pensou
soltando um sorrisinho sem graça.
Fechou o zíper da calça
e andou na direção da porta, o odor fétido do lugar começou a irritar suas
narinas. Empurrou a porta para abri-la, segurando na maçaneta com a mão
direita. O corredor que dava acesso ao bar estava diferente, parecia um túnel
de vidro. Ficou assustado e retornou para a porta, que já não estava mais atrás
de si. O coração acelerou, só podia estar tendo um devaneio, uma alucinação de
sua embriaguez. Parou exatamente onde estava e observou o local onde se
encontrava, para se certificar melhor da situação. O túnel se estendia para
ambos os lados e parecia não ter um fim. O local era formado por uma armação
composta por ferros e vidros. Luzes brancas no teto, iluminavam o ambiente. Uma
carga de adrenalina a mais dominou seu corpo. Caio estremeceu, não era uma
alucinação. Aquela situação era real. Por mais que parecesse uma loucura. Tinha
bebido um pouco além da conta, é verdade. Mas não era um homem dado a crendices
sem nexos. E a embriaguez, não justificaria aquela situação inóspita. Ficou
estático, tentando controlar a respiração.
Ele estava no auge de
seus trinta anos, era alto, magro, dono de uma musculatura rígida, bem definida
e bem distribuída pelo corpo. Os olhos castanhos claros eram expressivos e
compunham seu belo rosto branco, com lábios carnudos. Os cabelos eram negros,
cacheados e fartos, desciam até a altura dos ombros. Dando certo ar despojado
para sua composição física. Trabalhava como enfermeiro em um hospital de renome
na zona sul da cidade.
Um alçapão abriu abaixo
de seus pés, fazendo com que caísse de uma altura de uns dois metros e meio.
Com o impacto da queda ele desmaiou.
Horas depois acordou, a
boca estava seca e amarga, a cabeça rodava. Onde estivera na noite anterior não
interessava. O importante é que de alguma forma, havia chegado ao seu
apartamento e estava deitado em sua bela e confortável cama. Abriu os olhos
lentamente.
Parecia estar dentro de
uma grande caixa branca, sem portas e sem janelas, a luz forte do teto faziam
seus olhos acostumados à escuridão arderem. Definitivamente aquele lugar
estranho não era a sua casa. Recostou-se lentamente na parede atrás de suas
costas, a visão à sua frente era no mínimo estranha, inusitada. Dois homens e
uma mulher estavam deitados no chão, desacordados.
Um deles era um negro,
com uns dois metros de altura, forte, como estava de barriga para baixo, não
dava para enxergar o seu rosto.
O outro era dono de uma
cabeleira loira e lisa, deveria ter um metro e oitenta de altura, robusto,
semblante rústico, dominado por um sono profundo.
A mulher estava um
pouco afastada dos demais, era bela, parecia uma pintura impressionista, pele
branca, cabelos negros, lisos e curtos. Era alta e esguia, uma bela figura
feminina, que estava adormecida feito um anjo.
Caio se sentiu sufocado
naquela situação estranha, o coração batia acelerado e uma sensação de medo
tomava conta de sua alma. Lágrimas involuntárias começavam a descer dos seus
olhos.
O homem negro começou a
apresentar sintomas de um despertar, Caio prendeu a respiração.
Continua...
Ricardo Netto é colaborador desse Blog e escritor de Fantasia Universal.
Livros publicados:
O legado de Lilith
Sob o signo de Caim
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