REVELAÇÕES
As luzes do ambiente
foram invadindo sua pupila lentamente, parecia acordar de um sono pesado.
Estava deitada em uma maca de uma sala de emergência de um hospital qualquer. O
coração batia acelerado.
- Que bom que acordou.
– A enfermeira se aproximou, falando com ela. – Não se preocupe, agora está
tudo bem. Meu nome é Dora, sou enfermeira.
- O que aconteceu
comigo? Onde estou? – Indagou assustada. Seu corpo estava ligado por fios, a um
monitor que estava acima de sua cabeça, fixado na parede por um suporte. No
braço direito, uma extensão transparente, conectada a um soro, hidratava seu
corpo convalescente.
- Segundo meus colegas
do SAMU, você desmaiou no metrô e eles trouxeram você até aqui.
- No metrô? – Perguntou
confusa. Imagens aleatórias dominaram sua cabeça, vozes misturadas, fumaça
vermelha, “caixa” branca, pessoas estranhas...
- Sim. Você chegou aqui
há umas três horas. Confusa, falando coisas sem sentido. Coletamos exames, te
medicamos e você adormeceu.
- Não me lembro de
muita coisa. – Disse. – Que hospital é esse, qual o bairro onde estamos? – As
perguntas eram inúmeras, mas naquele momento queria apenas respostas
práticas.
- Ah sim! Aqui é o
hospital São Domênico e estamos próximos à Vila Mariana.
- Obrigada! – Suspirou.
A cabeça estava vazia de lembranças recentes, não fazia nem ideia do que havia
acontecido com ela, para chegar naquele lugar.
-Tem mais uma
informação que acho importante para te passar. – A enfermeira gordinha e de
estatura baixa, encarou ela nos olhos. – Está tudo bem com seu filhote. –
Pronunciou um pequeno sorriso nos lábios. – Sua intercorrência não afetou em
nada na sua gravidez. Não é uma ótima notícia?
- Gravidez? – O coração
mudou os batimentos.
- Sim. Você não sabia
que estava grávida Enya? – A enfermeira perguntou curiosa.
- Impossível. – A voz
quase não saiu.
Um médico novo e de aparência
atlética, entrou na sala de emergência.
- Ora vejam! Nossa
paciente acordou. Está tudo bem com ela? – Perguntou para a enfermeira.
- Aparentemente sim,
doutor. Pelo menos agora, está falando de uma maneira mais compreensível.
O médico chamava-se Afonso,
aproximou-se da maca onde Enya estava acomodada e absorvida por pensamentos
confusos.
“Que loucura era aquilo de gravidez agora?” – A fala da enfermeira ainda ecoava dentro de sua cabeça.
- Senhor! Acorda!
Chegamos no ponto final do ônibus. – A cobradora, tocou o ombro do homem com
delicadeza. Ele estava adormecido, com a cabeça recostada na janela do ônibus.
- Desculpe. – Respondeu
de supetão.
- Não se preocupe. Só
quis avisá-lo que já chegamos no Terminal Santo Amaro.
- Obrigado! – Desceu
apressado e com o coração a mil por hora.
Parou e procurou
controlar a respiração, olhou com calma o ambiente ao redor. A voz do colega de
trabalho ainda reverberava em seus ouvidos, com aquele som típico e estranho
emitido por rádios. Na sequência o som de um tiro. Ficou tenso. Levou a mão
direita ao peito, como quem procura por algum tipo de ferimento.
“Que loucura seria
aquela”. – Indagou para si mesmo. Puxou todo o ar para dentro dos pulmões.
Olhou outra vez ao redor e sua cabeça o colocou dentro da realidade. Estava
vivo, dentro de um terminal urbano de ônibus. Não fazia a menor ideia de como
tinha chegado ali, as lembranças do dia haviam fugido de sua memória, só queria
chegar na sua casa o mais rápido possível. Entrou em um ônibus cujo itinerário
o levaria ao seu destino. Sentou-se próximo a uma janela, as paisagens iam
passando diante de seus olhos, pareciam lugares distantes, sem sentido para ele.
Alguns minutos depois, desceu do veículo, quase que como por instinto. Olhou ao
redor tentando se orientar. Os pés guiaram seu corpo até chegar diante de uma
casa amarela e simples. Levou a mão direita ao bolso da calça, não encontrou a
chave. Aproximou-se do portão que separava ele do imóvel, respirou fundo e
encontrando a campainha, tocou.
Uma mulher de estatura
média e aparência comum abriu a porta. Ficou estática diante da figura dele,
pálida como uma vela. Era sua mulher, sua Telma. Ela levou a mão à boca e
soltou um grito agudo, desmaiando em seguida.
Nilton ficou estagnado,
sem entender a reação de sua esposa ao vê-lo.
Não demorou muito, um
garoto, já na fase da adolescência, aproximou-se para socorrer a mulher
desmaiada. Era Júlio, seu garoto. Outra figura apareceu na porta, era Jéssica,
sua pequena. Ela estava notoriamente atordoada com a cena do irmão tentando
acordar a mãe. Mas ficou ainda mais petrificada com a imagem dele diante do
portão.
- Mãe, mãe! – Gritou
apavorado o menino. – O que houve? – Perguntou assustado.
- Sou eu, Júlio. Seu
pai. – A voz quase não saiu em meio àquela confusão.
Por um instante, o
garoto desviou sua atenção da mulher a qual tentava acordar, para olhar a
figura masculina que estava em frente ao portão de sua casa. O coração acelerou
ainda mais. Sem dúvida era o seu pai. Mas aquilo seria totalmente impossível,
aquele homem estava morto há quase três meses.
- É o papai! - Gritou a menina.
Continua...
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