APARTADOS - WEB SÉRIE - EPISÓDIO IV



EPISÓDIO 04

REVELAÇÕES 

As luzes do ambiente foram invadindo sua pupila lentamente, parecia acordar de um sono pesado. Estava deitada em uma maca de uma sala de emergência de um hospital qualquer. O coração batia acelerado.

- Que bom que acordou. – A enfermeira se aproximou, falando com ela. – Não se preocupe, agora está tudo bem. Meu nome é Dora, sou enfermeira.

- O que aconteceu comigo? Onde estou? – Indagou assustada. Seu corpo estava ligado por fios, a um monitor que estava acima de sua cabeça, fixado na parede por um suporte. No braço direito, uma extensão transparente, conectada a um soro, hidratava seu corpo convalescente.

- Segundo meus colegas do SAMU, você desmaiou no metrô e eles trouxeram você até aqui.

- No metrô? – Perguntou confusa. Imagens aleatórias dominaram sua cabeça, vozes misturadas, fumaça vermelha, “caixa” branca, pessoas estranhas...

- Sim. Você chegou aqui há umas três horas. Confusa, falando coisas sem sentido. Coletamos exames, te medicamos e você adormeceu.

- Não me lembro de muita coisa. – Disse. – Que hospital é esse, qual o bairro onde estamos? – As perguntas eram inúmeras, mas naquele momento queria apenas respostas práticas. 

- Ah sim! Aqui é o hospital São Domênico e estamos próximos à Vila Mariana.

- Obrigada! – Suspirou. A cabeça estava vazia de lembranças recentes, não fazia nem ideia do que havia acontecido com ela, para chegar naquele lugar.

-Tem mais uma informação que acho importante para te passar. – A enfermeira gordinha e de estatura baixa, encarou ela nos olhos. – Está tudo bem com seu filhote. – Pronunciou um pequeno sorriso nos lábios. – Sua intercorrência não afetou em nada na sua gravidez. Não é uma ótima notícia?

- Gravidez? – O coração mudou os batimentos.

- Sim. Você não sabia que estava grávida Enya? – A enfermeira perguntou curiosa.

- Impossível. – A voz quase não saiu.

Um médico novo e de aparência atlética, entrou na sala de emergência.

- Ora vejam! Nossa paciente acordou. Está tudo bem com ela? – Perguntou para a enfermeira.

- Aparentemente sim, doutor. Pelo menos agora, está falando de uma maneira mais compreensível.

O médico chamava-se Afonso, aproximou-se da maca onde Enya estava acomodada e absorvida por pensamentos confusos.

“Que loucura era aquilo de gravidez agora?” – A fala da enfermeira ainda ecoava dentro de sua cabeça.




- Senhor! Acorda! Chegamos no ponto final do ônibus. – A cobradora, tocou o ombro do homem com delicadeza. Ele estava adormecido, com a cabeça recostada na janela do ônibus.

- Desculpe. – Respondeu de supetão.

- Não se preocupe. Só quis avisá-lo que já chegamos no Terminal Santo Amaro.

- Obrigado! – Desceu apressado e com o coração a mil por hora.

Parou e procurou controlar a respiração, olhou com calma o ambiente ao redor. A voz do colega de trabalho ainda reverberava em seus ouvidos, com aquele som típico e estranho emitido por rádios. Na sequência o som de um tiro. Ficou tenso. Levou a mão direita ao peito, como quem procura por algum tipo de ferimento.

“Que loucura seria aquela”. – Indagou para si mesmo. Puxou todo o ar para dentro dos pulmões. Olhou outra vez ao redor e sua cabeça o colocou dentro da realidade. Estava vivo, dentro de um terminal urbano de ônibus. Não fazia a menor ideia de como tinha chegado ali, as lembranças do dia haviam fugido de sua memória, só queria chegar na sua casa o mais rápido possível. Entrou em um ônibus cujo itinerário o levaria ao seu destino. Sentou-se próximo a uma janela, as paisagens iam passando diante de seus olhos, pareciam lugares distantes, sem sentido para ele. Alguns minutos depois, desceu do veículo, quase que como por instinto. Olhou ao redor tentando se orientar. Os pés guiaram seu corpo até chegar diante de uma casa amarela e simples. Levou a mão direita ao bolso da calça, não encontrou a chave. Aproximou-se do portão que separava ele do imóvel, respirou fundo e encontrando a campainha, tocou.

Uma mulher de estatura média e aparência comum abriu a porta. Ficou estática diante da figura dele, pálida como uma vela. Era sua mulher, sua Telma. Ela levou a mão à boca e soltou um grito agudo, desmaiando em seguida.

Nilton ficou estagnado, sem entender a reação de sua esposa ao vê-lo.

Não demorou muito, um garoto, já na fase da adolescência, aproximou-se para socorrer a mulher desmaiada. Era Júlio, seu garoto. Outra figura apareceu na porta, era Jéssica, sua pequena. Ela estava notoriamente atordoada com a cena do irmão tentando acordar a mãe. Mas ficou ainda mais petrificada com a imagem dele diante do portão.

- Mãe, mãe! – Gritou apavorado o menino. – O que houve? – Perguntou assustado.

- Sou eu, Júlio. Seu pai. – A voz quase não saiu em meio àquela confusão.

Por um instante, o garoto desviou sua atenção da mulher a qual tentava acordar, para olhar a figura masculina que estava em frente ao portão de sua casa. O coração acelerou ainda mais. Sem dúvida era o seu pai. Mas aquilo seria totalmente impossível, aquele homem estava morto há quase três meses.

- É o papai!  - Gritou a menina.

 

 

Continua...

 

Rede Social do Autor:

Instagram: Aqui

 





Postar um comentário

0 Comentários