As imagens
misturavam-se diante dos olhos dos quatro, não eram mais paisagens. Agora
parecia mais um grande caleidoscópio com formas geométricas variadas, coloridas
e psicodélicas. Provocando neles uma reação vertiginosa.
Caio soltou um grito
repentino e assustador, parecendo uma daquelas vítimas que saem de um
afogamento. Puxou todo ar para dentro dos pulmões.
- Meu Deus! – Gritou,
chamando a atenção dos outros três. – Eu me lembrei. – Parou uns segundos para
processar as ideias. – Quero dizer eu vi o que aconteceu comigo na noite em que
vim parar aqui. Ou melhor, eu vi tudo o que aconteceu com a minha vida até o
dia da minha morte. – Começou a chorar compulsivamente. Um silêncio estranho
dominou o lugar. Ele estava atordoado, levantou-se histérico e começou a
esmurrar a parede. - Onde estamos? – Gritou. – O que fizeram com nossas vidas?
– O choro era compulsivo, perturbador.
- Acalme-se homem! –
Nilton ficou de frente para o outro, segurando-o pelos ombros. – Procure se
acalmar por favor! Diga o que viu.
Caio engoliu o choro de
repente. Encarou nos olhos, o homem que o segurava. Olhou para os demais que
continuavam quietos. Sentiu-se um imbecil perturbado.
- Eu vi tudo cara! –
Respirou fundo. – Minha vida inteira, diante dos meus olhos, em fração de
segundos.
- Muito bem! Agora que
está mais calmo, nos conte o que você viu.
Sentaram-se novamente.
Enya mostrava nitidamente que estava apreensiva. Otho, um pouco cabisbaixo
permanecia em um silêncio quase palpável.
As imagens pararam de
serem processadas na tela à frente. A “caixa” onde estavam voltou novamente a
ficar totalmente branca.
- Antes de aparecer
aqui. – Começou ele. – Estava perambulando pelas ruas do centro velho de São
Paulo depois de ter passado a noite em uma balada, bêbado e com a bexiga cheia,
queria esvaziá-la em algum lugar. Encontrei um boteco onde pedi permissão para
usar o banheiro do lugar. Ao satisfazer minha necessidade fisiológica, abri a
porta do local e apareci aqui ao lado de vocês.
- Tá você já nos contou
essa história um milhão de vezes. Qual a novidade? – Otho finalmente saiu do
seu silêncio.
- Sim, você estava
gritando feito um louco. Dizendo que tinha visto sua vida inteira diante dos
seus olhos. Sei lá! Já é tão absurdo estarmos aqui nesse lugar, que às vezes
chego a pensar que tudo isso é um pesadelo. – Falou Enya. – Qual o sentido de
tudo isso gente?
- Verdade! –
Complementou Nilton.
- Desculpa gente! Eu
estava alucinado. Enlouquecido, sei lá!
- E isso significa o
que, meu camarada? – Otho estava nitidamente irritado.
- Que eu não me lembro
de nada além do já falei.
- Que ótimo. – Ironizou
Otho.
- Me desculpem. Eu não
sei explicar o que aconteceu aqui. Não sei o por que desse momento de loucura.
Se eu falei alguma coisa que iria trazer alguma luz para nossas dúvidas,
realmente não me lembro de nada agora.
- Você disse que tinha
visto toda sua vida passar diante dos seus olhos até o dia de sua morte. Foi o
que falou. – Retrucou Nilton.
- Me desculpem! Mas
realmente deu um branco na minha cabeça, novamente..
- Que merda é essa
gente? – Otho resmungou encarando Caio nos olhos.
- Do que você está
reclamando? Nem seu nome completo você recorda. – Retrucou Caio.
- Calma gente! – Nilton
tomou a palavra. – Precisamos manter o equilíbrio. – Não vamos cair nessas
discussões, que não vão nos levar para lugar nenhum.
– Concordo. – Falou Enya. – Ninguém aqui sabe exatamente
quem realmente é. Isso é um fato! Ou que lugar maldito é esse. O que estamos
fazendo aqui? Ou melhor ainda, como viemos parar aqui de verdade.
- Me desculpem! - Caio
estava nitidamente perturbado.
Otho voltou ao seu
silêncio perturbador novamente. Dos quatro era o mais estranho.
As emoções estavam
misturadas e à flor da pele entre eles. Entender aquela situação era o que os
quatro queriam, mas, por mais que imaginassem mil situações, não conseguiriam chegar
a um denominador comum. E agora aquele surto de Caio, havia deixado aquele
estranho bloco de gelo em seus estômagos.
Continua...
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