EPISÓDIO 05
“ELES”
Tocou na maçaneta da
porta do banheiro para sair dali, teve a nítida impressão de já ter vivido
aquela cena alguma vez na vida.
“Ah, a embriaguez”. –
Pensou expressando um sorrisinho sem graça nos lábios.
Saiu do toalete e
sentou-se em uma banqueta de frente para o balcão, pediu um café.
“Forte e sem açúcar”.
Precisava daquela
bebida dos deuses para despertar. O atendente colocou o seu pedido em cima do
balcão. Os olhos cintilantes do homem chamaram sua atenção. Estava em meio a um
Déjà vu. Abaixou o olhar para não criar uma situação constrangedora com o homem
do outro lado do balcão.
Ingeriu a bebida com
pressa, pagou e saiu.
Na rua, o dia dava seu
ar da graça. Estava começando a ficar claro, porém era uma manhã cinza e sem
graça.
Caio estava com uma
sensação estranha, não conseguia identificar exatamente o que era, mas, o peito
expressava uma angústia estranha. Mais do que nunca, queria chegar à sua casa e
descansar. Algo ao seu redor parecia não se encaixar, tudo parecia
repentinamente muito estranho, como se não pertencesse aquele lugar. Ou pior
ainda, como se não fizesse parte de lugar nenhum do mundo. Nunca sentira aquilo
em toda sua existência. É claro, já havia se sentido deslocado em alguma
situação de sua vida. Mas aquilo era totalmente novo. Algumas imagens sem nexo
invadiram seus pensamentos, um quarto totalmente branco e três pessoas
estranhas junto com ele. Dois homens e uma mulher. Sentiu uma forte fisgada na
cabeça. Parou, recostou-se em um poste, puxando todo ar que conseguia, para
dentro dos pulmões.
“Caraca, acho que
exagerei na bebida essa noite”.
Minutos depois estava
no seu apartamento, deitado em sua cama.
Olhos cintilantes o
observavam enquanto caia no sono. Olhos que iriam segui-lo para o resto de sua
vida. Persegui-lo na verdade, até que finalmente ficasse enlouquecido.
- Alguém vai pagar por
essa incompetência. – Gritou o homem. Como era muito branco seu rosto estava
vermelho e os olhos ardiam feito brasas. – Esse homem não poderia ter fugido
daqui. – Esmurrou a escrivaninha. – Otho é uma pessoa muito perigosa. Quero
saber quem facilitou a fuga dele. Quero nomes. – Terminou de berrar e sentou-se
na cadeira.
- Ele quebrou o braço
de dois dos nossos seguranças e feriu outro com uma tesoura pequena. – Falou um
lacaio, magro e feio. – Não deu para contê-lo.
- Chega Rubens! Já
escutei essa ladainha mais de mil vezes. Quero soluções, não problemas. – Não
conseguia nem respirar de tanta raiva. – Eu quero aquele infeliz aqui de volta,
custe o que custar. E também quero a cabeça de quem ajudou ele. Nossa clinica
de reabilitação psiquiátrica tem um nome a zelar. Não podemos nos sujar por
conta de um imbecil feito o Otho.
- Já mandei alguns
homens atrás dele, Dr. Clerison. Imagino que ele não deva ter ido longe. Afinal
de contas, ele não conhece o entorno.
- Acho muito bom mesmo,
que esses idiotas o encontrem. Para o seu bem Rubens, e para o bem de todos
daqui. – Esbravejou. – Agora, saia da minha frente! Quero ficar sozinho.
Otho se escondeu
durante toda a noite em uma casa velha e abandonada, onde aguardou amanhecer o
dia. Não sabia exatamente onde estava, mas tinha experiência em fugas, essa era
a terceira clínica da qual já havia se evadido. Sempre deixava para trás um
rastro de braços quebrados e funcionários machucados. No entanto, dessa vez não
se deixaria pegar de novo. Aqueles cretinos haviam sugado toda sua memória de
dentro de sua cabeça, mas ele como ninguém sabia que aqueles vermes não eram
humanos. Nunca conseguiriam tirar aquela verdade dele e ele estava disposto a
pagar com a própria vida até por fim provar que esses lunáticos estavam entre
nós. Ele sabia exatamente quem eram “ELES” e tinha como provar.
O sol nasceu tímido
misturado com uma pequena névoa causada pelo orvalho que molhava a vegetação.
Saiu com cuidado de dentro da choupana, olhou ao redor, certificando-se de que
não havia ninguém por perto. Deslocou-se para o lado de fora. Estava no meio de
um matagal, precisava encontrar uma estrada e consequentemente algum lugar
civilizado. Além disso, precisava encontrar o mais rápido possível os outros
três, que fizeram companhia para ele, dentro daquela caixa branca. Enya, Caio e
Nilton. Precisavam ser alertados sobre “ELES”.
Continua...
Ricardo Netto é:
Criador dessa Web série, colaborador desse Blog e escritor da série de livros,
Os senhores das sombras (O legado de Lilith e Sob o signo de Caim).
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