APARTADOS
EPISÓDIO X
Fugas
A saída repentina do bunker fora quase um golpe de sorte, não fosse pelo fato de contarem com a sagacidade de Morgan.
Mesmo com todo sistema de segurança implantado no lugar, ele sabia que seus inimigos conseguiriam ultrapassá-lo uma hora ou outra. E foi exatamente oque aconteceu. Mas, na ocasião já haviam saído dali, pela rota de saída de emergência, construída com esse propósito. Morgan sempre conseguia escapar dos seus perseguidores, pelo fato de sempre estar à frente em seus planos e pensamentos, pelo próprio fato de ser alvo a tanto tempo, havia se tornado exímio em escapadas e dono de uma inteligência ímpar.
Teoricamente agora, depois de se passarem dois meses do ocorrido, estavam seguros.
Uma pequena cidade no interior era o lugar ideal para se manterem escondidos por outro período de tempo. No entanto sabiam que aquela paz seria passageira, "Eles" voltariam.
Yvy, a filha de Enya, era um bebê saudável. Era híbrida, isso era um fato, mas quase nada a diferenciava das crianças humanas, há não ser pelos belos olhos alaranjados e pela pelugem azul clara que cobriam sua pequena cabeça, mas com o tempo os cabelos mudariam para uma coloração mais dentro dos padrões humanos, algo próximo de um castanho ou loiro, como os de sua espécie. Morgan havia conseguido retirar o chip de localização dela sem maiores problemas, a segurança de todos estaria em jogo enquanto aquele artefato estivesse implantado no corpinho dela. Ficara apenas um pouco indisposta no dia do procedimento, mas nada muito grave.
O instinto maternal de Enya, não buscava explicações para a existência daquela pequena criatura, que ela assim que a vira na hora do parto, já a amara de imediato. Aquela menina dependia totalmente de seus cuidados e da alimentação que saía de suas mamas. Como ela havia sido concebida, era o que menos interessava, quando olhava em seus pequenos olhos enquanto a amamentava, era uma troca mágica de energia. Parara definitivamente de buscar explicações de como havia gerado o maior amor de sua vida. Mesmo sabendo que era fruto de um experimento alienígena, pouco se importava. Seu coração fora definitivamente roubado por Yvy e por Caio, que representava seu porto seguro, no meio daquela tempestade.
Caio estava na varanda da casa, seu olhar estava perdido no horizonte. Já havia entendido e aceitado que não poderia nunca mais se separar daquelas pessoas, que entraram em sua vida naquela maldita "caixa branca". Depois daquele ocorrido, tudo havia mudado drasticamente. Agora encontrava-se fugindo de extraterrestres. Se ao menos cogitasse essa ideia há alguns anos atrás, daria risada de si mesmo. Tinha uma vida comum e rotineira, verdadeiramente monótona. No entanto, estava ali naquele exato momento, envolvido emocionalmente com aquela mulher e aquela criança que estavam em algum quarto daquela casa. Caio agora era um homem diferente, sentia-se responsável pelas vidas daquelas duas mulheres. Eram agora sua família e tinha o dever de protegê-las.
Nilton, em outro canto do imóvel, remoía em seus pensamentos a saudade que sentia de sua família, não teria como voltar ao passado, estava morto. Só ele e aqueles estranhos sabiam que estava vivo. Aquela ligação obrigatória entre os quatro perturbava sua mente, não queria ficar conectado a eles, mas não tinha escolha. Já entendera também que se algo acontecesse com ele, aconteceria com os outros. Já havia chorado muito, mas precisava se manter forte, não só como era fisicamente, mas dentro de sua alma. Sabia que deveria esquecer definitivamente sua vida. Aquele tiro no shopping tirá-la sua antiga existência para sempre, não havia escolha de retorno, apenas seguir em frente, mesmo que isso fosse contra sua verdadeira vontade, mesmo que às vezes sentisse vontade de explodir.
Otho já passara outras vezes pela mesma situação dos demais, já ficara confinado na "caixa branca" com outras pessoas, que foram executadas por "Eles". Já havia passado por experiências e experimentos dos mais variados e sobrevivera. Fugira, voltara a ser capturado, mas dessa vez, estava disposto há nunca mais voltar para as mãos daqueles monstros. Por tudo que havia passado em todos os seus confinamentos, conseguira convencer os demais de que deveriam lutar juntos e com a ajuda de Morgan. Só assim teriam alguma chance de sobreviver. Nem que isso custasse para eles, fugirem para o resto de suas vidas. Isso seria um preço a pagar, mas seria melhor do que voltar para as garras dos seus perseguidores. Ele e Morgan sabiam que não seria uma empreitada fácil, mas conseguiram de alguma maneira burlar os planos dos Arcórios.
A estrada à frente era longa, Morgan estava ao volante do furgão, acompanhado por Caio e Otho nos bancos dos caronas, os outros ocupavam a parte traseira do veículo. Estavam tensos e mais uma vez em fuga. Por pouco, outra vez, quase foram pegos. "Eles" haviam chegado muito perto mais uma vez, porém a experiência de Morgan e Otho, os livrara por mais um momento. Seguiriam para um próximo refúgio, e assim seria até conseguirem chegar no "CAMPO", lugar onde Morgan possuía muitos desafetos. No entanto, não haveria outra maneira de se livrarem daqueles vermes.
O som tocava: Vento no Litoral, da Legião Urbana. Estavam em silêncio, a tensão na evasão fora grande, causara estresse em todos. Mas conseguiram.
Na madrugada chegaram, a lua iluminava o local dando uma visão bucólica. Era uma casa de médio porte, escondida em um canto qualquer da mata atlântica, com quartos que caberiam a todos de maneira confortável.
Enya foi a primeira a se acomodar em seu quarto, sua filha necessitava de cuidados inerentes aos bebês de sua idade.
Caio estava inquieto, alguma coisa dizia que não conseguiriam fugir pelo resto de suas vidas. Também não era o tipo de vida que queria levar. Mas o que fazer. Era a única opção que tinham naquele momento. Seguir cegamente as instruções daquele estranho, que respondia pelo nome de Morgan.
Nilton não expressava nada, ficara quieto durante toda a viagem e até aquele momento. Preferiu ficar em silêncio, não tinha nada a dizer. Sua alma ainda remoía as dores das perdas de sua família:
"Mortos não recuperam suas vidas". - Aquele pensamento maldito martelava sua cabeça.
Otho como sempre, mantinha sua inquietude. Porém, sua vontade de não voltar para a "caixa branca", era maior que qualquer coisa. Não sabia exatamente quais eram as reais intenções de Morgan com todos eles, afinal de contas ele também era um Arcório. renegado sim, mas não deixava de ser um deles. Mesmo assim, era muito melhor estar nas mãos dele, do que nas dos outros. Sabia como ninguém tudo o que sofrera.
Cada um se acomodou em seu devido quarto e a casa entrou no mais absoluto silêncio. apenas Morgan ainda se mantinha acordado.
"Preciso ganhar a confiança dos quatro, mantê-los ao meu lado. Essa é a única maneira de conseguir entrar no "CAMPO" de uma vez por todas, usando eles como moeda de troca". - Pensou.
Assim, também conseguiria concluir seu plano, que ia muito além de conseguir se aproximar dos rebeldes, suas ambições eram muito maiores.
Continua...
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