APARTADOS - II TEMPORADA

 


(IMAGEM DA INTERNET).



EPISÓDIO I



RETORNO




UM ANO DEPOIS...



Acordou assustado no meio da madrugada, estava molhado de suor e ofegante como se estivesse participado de uma maratona. Recostou o corpo na cabeceira da cama, o coração batia a mil por hora. A mulher acordou com o susto dele. Era um sonho recorrente, toda semana no mesmo dia e na mesma hora, não conseguia precisar com exatidão o que sonhava, mas sempre ficava perturbado, tenso.

- O que foi Nilton? - Perguntou sua esposa ainda tomada pelo sono e pelo susto.

- Aquele sonho estranho outra vez. - Disse.

Pegou o celular que estava sobre um pequeno móvel ao lado da cama, apenas para conferir a hora. O relógio marcava  exatamente duas e quarenta e cinco. Aquilo não podia ser uma coincidência, já era a quarta semana que aquele evento acontecia. Deveria ter alguma explicação lógica. 

- Desde que você voltou do hospital  que esses sonhos te atormentam. - Ponderou ela.

- Deixa eu levantar e tomar uma água.

Dirigiu-se até a cozinha e matou sua sede. Recostou-se na pia, estava com o corpo todo molhado e com um odor forte da transpiração. Foi até o banheiro e tomou um banho demorado. Durante a "ducha", tentou buscar na memória as imagens daquele devaneio, nada, apenas escuridão e silêncio. Mas a sensação naquele momento era como se olhos o observassem. Olhos alaranjados e cintilantes. Retornou para o seu dormitório e deitou-se, aconchegando o seu corpo com o de sua mulher, não com a intenção de procurar sexo e sim abrigo.

Desde aquele incidente no shopping, onde levou um tiro, sua vida nunca mais fora a mesma. Ficou internado por meses, passou por um período em coma, depois, um tempo de  reabilitação, até a alta hospitalar foi uma longa jornada. Agora lidava com fantasmas que estavam enterrados no mais profundo de sua alma e de suas memórias. Mas, não sabia o que tudo aquilo significava no real sentido daquela palavra. 

Demorou alguns minutos e pegou no sono. A mulher que estava com a cabeça recostada no seu peito o observava. Os olhos dela brilharam na escuridão do quarto, cintilavam na verdade, em um tom de íris não muito comum...



Enya jamais poderia imaginar que aquela noite de sexo casual lhe traria uma gravidez, agora estava bem ali observando a respiração de sua pequena. Aquela minúscula criatura causava tanto amor em seu peito que chegava até a doer, seria capaz de dar a vida por ela. Quanto ao pai de Yvis, nem sabia de sua existência e era exatamente assim que deveria ser para sempre. Fora uma produção independente, tinha orgulho de ser mãe solo. Após aquela noite, nunca mais procurou por Bento, era esse o nome do pai da criança. A última notícia que tivera dele através de amigos, fora que havia viajado para a Europa. Seria sensato tudo continuar como estava, não queria dividir sua filha com ninguém. Não que ele não fosse um cara legal, mas não servia para ser pai de sua menina, ela já desempenhava muito bem os dois papéis, de mãe e de pai. 

"Que loucura"! - Pensou. - Educar um filho com tudo oque estava acontecendo ao redor do mundo, com todas aquelas transformações que a sociedade estava passando. O planeta à beira de um colapso e agora aquele vírus que começara na China e invadira todos os lugares do mundo.

"Não era loucura não"! - Ponderou ela. - "Era coragem". 

Os olhos da criança se abriram lentamente, acordou, mas ainda mantinha aquela preguiça pós sono. Pegou ela no colo e a aconchegou em seu peito.

- Mãe, eu tive um sonho. - Falou com a voz aguda.

- Verdade meu amor? - Perguntou com carinho, olhando a filha nos olhos.

- Homens de branco mamãe. Homens de branco. - Repetiu.

- Tá bom meu amor! - Tentou mudar o foco da conversa. Aqueles sonhos estranhos da sua filha, estavam começando a perturbá-la. - Quer comer alguma coisa?

- Quero. - Respondeu. 

Preparou um lanche rápido para as duas e com a filha ao seu lado, retornou ao computador, estava trabalhando em sistema de home office, devido a pandemia.



Caio chegou em sua casa exausto, o plantão no hospital havia sido tenso, todos aqueles pacientes chegando aos montes e cada vez mais graves, o pronto socorro onde trabalhava como enfermeiro, tinha gente saindo pelo ladrão, na maioria dos casos infectados pelo novo corona vírus. Seu mundo estava de ponta cabeça, precisava agora de um bom banho e dormir, pelo menos umas vinte quatro horas. Mas claro que aquilo não seria possível, no dia seguinte estaria no campo de batalha outra vez, portanto, precisava aproveitar o tempo que tinha para descansar, o corpo e a mente.

Nem ligou a TV, após o banho foi direto para a cama, sentia dores da planta dos pés até o último fio de cabelo. Adormeceu.

Estava dentro de uma caixa branca com outras três pessoas, conversavam, mas não conseguia entender o que falavam. Os semblantes de todos mostravam um certo medo, uma tensão talvez. Depois outras imagens se misturaram em uma velocidade e sem nenhuma lógica. Carros em fuga, tiros, naves espaciais, a Terra ficando distante diante de seus olhos apavorados, um outro planeta em decadência, seres que se pareciam com humanos, mas com diferenças marcantes. Sono e escuridão, salas de experimentos, olhos alaranjados, conversas em um idioma que ele identificou como se não fosse daqui do nosso planeta. Tudo dentro de uma ação de montanha-russa. Acordou, correu para frente do computador, o sono já havia ido embora mesmo, não conseguiria dormir mais. 

Abriu a pasta onde estavam os arquivos de suas anotações.

"Apartados". Era esse o nome da pasta. Desde que começara a ter aqueles sonhos, tivera a ideia de anotá-los, para que não se perdessem na escuridão de sua memória, tinha a total certeza que não eram apenas ilusões de sua cabeça, sabia que havia algo maior por trás daquelas imagens. O arquivo se abriu diante de seus olhos. Os escritos estavam organizados por datas, desde a primeira madrugada em que tivera o primeiro sonho, mas não tinha uma narrativa organizada, eram apenas trechos escritos aleatoriamente. No entanto, apesar de serem escritos assim, possuía uma certa lógica. Aquilo tudo poderia parecer uma grande loucura, mas colocara em sua cabeça que descobriria tudo sobre aqueles fatos estranhos, nem que isso lhe custasse a própria vida. Nunca comentara com ninguém sobre aquele assunto, mas fazia aquele "dossiê" para futuramente encontrar alguém com quem pudesse compartilhar aquela loucura.



O quarto onde se encontrava estava sendo vigiado por dois seguranças, desde sua última fuga, onde fez um verdadeiro estrago naquela clínica e após sua captura, a vigilância sobre ele estava sendo intensa. Era um paciência considerado perigoso e agressivo.  Já havia fugido dali por várias vezes, mas daquela vez seria praticamente impossível. Ou quem sabe contaria com a sorte de contar com a ajuda de Morgan outra vez. Afinal de contas todas as fugas anteriores haviam sido "facilitadas" por ele. Mas também tinha que considerar que sorte não era uma palavra muito presente em sua vida. 

Estava sentado na pequena cama do quarto, pensativo, os hematomas que adquirira na briga com os seguranças daquele lugar em sua última captura, estavam quase desaparecendo. O pescoço ardia muito quase próximo da cabeça, aquela ardência chata já durava dias, passou a mão no local com mais delicadeza dessa vez, não para aplacar a dor como fizera antes, mas para sentir o que realmente estava incomodando. Levou a mão direita até o local, os dedos percorriam por cada milímetro, lentamente, fechou os olhos como se isso fosse ajudar seu tato de alguma forma, todo seu sentido de sintonia fina do entrou em ação. Encontrou um pequeno, quase minúsculo caroço no fim da nuca. Era exatamente ali que se iniciava a dor e depois se irradiava pelo resto da cabeça e dos ombros. Apertou com força, sentiu uma dor insuportável, travou os dentes para suportar e para não emitir nenhum grito. Soltou o dedo na sequência, a dor desapareceu de imediato, era como se ela nunca estivesse existido.

Sob a pele de seu pescoço, uma minúscula luz em forma de led, de cor esverdeada se acendeu. Era algo que haviam implantado ali, como se fosse um localizador ou um chip de identificação. Era exatamente assim que ELES controlavam as suas cobaias. 

Nilton, Enya, Caio e Otho nunca mais teriam suas vidas de volta. Estariam conectados para sempre, por aqueles chips e pelas armadilhas armadas pelos OUTROS. 



Continua...


RICARDO NETTO É COLABORADOR NESSE BLOG, ESCRITOR DA SÉRIE DE LIVROS: 

OS SENHORES DAS SOMBRAS (O LEGADO DE LILITH) E (SOB O SIGNO DE CAIM)

E AGORA SEU PRIMEIRO LIVRO: O LEGADO DE LILITH ESTÁ SENDO TRANSFORMADO EM UM CURTA: UM CONTO DE LILITH (ROTEIRIZADO E DIRIGIDO POR GUILHERME ANDREOLLI), COM CAMPANHA ATIVA NO CATARSE.

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