APARTADOS - WEB SÉRIE - EPISODIO II


 EPISÓDIO 02



IMPRESSÕES



Capítulo 02

 

 

Os quatro estavam com as costas encostadas na mesma parede, em silêncio. Após os primeiros minutos de sustos, que haviam passado assim que acordaram, com a estranheza de estarem naquele lugar inusitado. Depois de se apresentarem e tentarem entender o que estavam fazendo ali, ou melhor, como haviam chegado naquele quarto branco. Estavam quietos. Tensos.

Foram levantadas todas as teorias de conspirações possíveis, mas não tinham chegado a um denominador comum.

Caio fôra o primeiro a despertar, depois de uma noite de embriaguez, chegara ali sem nenhuma explicação lógica. Os outros três também traziam consigo histórias bem estranhas.

Nilton era segurança em um shopping na zona sul de São Paulo. Parecia estar dentro de uma manhã rotineira de sua vida. Saíra de casa, despedira-se da mulher com um beijo leve nos lábios e deixara os filhos dentro da vã, para que fossem para a escola. No trabalho tudo estava correndo como todos os dias. Mas uma agitação repentina mudaria sua vida para sempre. Ouviu gritos e correrias vindos em sua direção. O som do rádio chiava freneticamente em seu fone de ouvido, quando ele esboçou o gesto de tocar o botão que ficava na lapela de seu paletó preto, para se comunicar. Ouviu um barulho seco. Mais gritos de pavor. Enquanto sua visão ia ficando escura, revia as imagens de sua família em sua memória. Os gritos das pessoas iam ficando distantes. Entrou dentro de sua própria escuridão. Ao abrir os olhos dentro daquele lugar, como que por instinto, procurou algum tipo de ferimento em seu corpo robusto. Como foi o segundo a acordar, viu a figura de Caio encostada na parede. Não pode deixar de sentir certo estranhamento e medo. Por que não? Era um homem grande de tamanho, mas aquela estranha situação diminuíra sua autoconfiança.

Enya acordara pela manhã para ir ao trabalho. Como de hábito, estava em cima da hora. Fizera tudo às pressas, trancara  o pequeno apartamento no bairro da Consolação e partira para a rotina do seu dia a dia. O metrô da linha amarela, para variar, estava lotado. Em pé e alheia ao que acontecia à sua volta, com os pensamentos voltados para as broncas que iria receber do Antenor, aquele gordo maldito e mau humorado, que era o seu chefe de redação, daquela revista sensacionalista onde trabalhava. Não deu a devida atenção, quando as luzes do veículo se apagaram. Só percebeu que havia algo de errado quando ouviu os gritos e xingamentos dos outros usuários.

“Senhores usuários, estamos parados no momento por queda de objeto na via”. “Desculpem o transtorno, breve voltaremos ao funcionamento normal”.  – Uma voz feminina e eletrônica anunciou o incidente. Ela tirou os fones de ouvidos, olhou ao redor com mais atenção. Um burburinho de reclamações, pessoas olhando para os próprios relógios, os celulares, queixas paralelas. Sentiu uma náusea repentina. Parecia que uma fumaça vermelha havia invadido o vagão onde se encontrava. Apagou. Despertou, no meio daqueles estranhos. Naquela caixa branca. Sem entender nada do que realmente acontecera. Ficou assustada, chorou, entrou em pânico. Depois em um silêncio. Igual aos demais.

Otho fora o último a acordar, porém, não tinha lembranças anteriores como os outros. Parecia que sua memória havia sido sugada de dentro de seu cérebro. Só tinha o primeiro nome como recordação, nada mais. Para ele, as sensações de medo e angústia, ficaram amplificadas.

Os quatro ainda estavam absorvidos por aquela energia estranha que dominava aquele lugar. O silêncio era necessário, não havia mais nada o que dizer. Queriam respostas. E com certeza nenhum deles as tinha.

A parede da frente se transformou em uma tela. De início, apenas algumas imagens aleatórias de paisagens.

Ficaram apreensivos. Respirações presas.



Continua...





Ricardo Netto é colaborador desse Blog e criador dessa Web Série.


Escritor dos livros: O legado de Lilith e Sob o signo de Caim.


Instagram: 

@saredhoficial

 

 

 

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